segunda-feira, julho 06, 2009





Depoimento do Escritor DANIEL DE SÁ, sobre o poeta JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

Tenho alguma dificuldade em falar do poeta Lopes de Araújo, porque lhe fui tão próximo, que até me atrevo a julgar que, além da família de sangue, talvez ninguém tenha gostado tanto dele quanto eu. E creio até que não se pode entender bem a sua poesia sem lhe conhecer a vida. Lopes de Araújo nunca foi um fingidor. Não escapando à trilogia fatal de quase todos os poetas (a vida, o amor e a morte), ele foi um homem que amou a vida e amou o amor e que não teve pudor algum em manifestar a sua fragilidade perante a ideia da morte. Creio que, tanto como eu, ele repudiaria essa parvoíce da divisa dos Açores “Antes morrer vivos do que em paz sujeitos”, herdada de Ciprião de Figueiredo e tomada do B.I.I. 17. Porque não há maior sujeição do que a morte.


Lopes de Araújo teve o mérito de teimar em ser o que era, ou de ser poeta como sentia que era, sem arriscar as novas formas poéticas, muitas delas meramente experimentais e que ficaram como casos dignos de estudo mas dificilmente como escola para o futuro. Romântico, anacrónico talvez perante as correntes da moda, hoje, quando todas as formas da Arte já não são definidas pelo tempo nem pelo modo, pode voltar a ler-se a sua poesia como um puro exercício de “falas do coração”. E, quem disser que a poesia não é isto precisamente, nunca foi poeta ou nunca o será.

Daniel

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