quinta-feira, abril 22, 2010

ENGANO


Não me olhes mais assim que eu quero ver
Outra alegria, em teu magoado olhar …
Não me olhes mais assim, que eu vou perder
O Bem que trago, em mim, para te dar! …

Toda essa angústia que te faz sofrer,
Toda essa dor que te anda a atormentar
São mistos de amargura e de prazer
Que, na vida, jamais te irão deixar!

De mágoa, pela tua solidão …
De prazer, porque te enche o coração
Uma forte esperança de ventura …

Tudo isso é transitório e enganador;
Embora brilhe o Sol, com muito ardor,
Vai-se depressa … e volta e a noite escura!


JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

quarta-feira, março 24, 2010

Pergunta.......poema de JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO
















Já vejo espuma rendilhada,
Beijando a negra rocha das encostas…
E os ramos do arvoredo já me acenam
Um demorado adeus da saudade
Que anuncia a breve partida …
Densa, espessa neblina,
Ao longe, como pesada cortina
Cinzenta, da cor do mar,
Cai e rouba ao meu olhar
A singular beleza do Pico
Que tanto me faz encantar!

Porque será que a saudade
Se antecipa no chegar,
Com a tristeza da largada
Com a alegria do voltar !


Mas quem pode entender, quem,
Os sonhos belos e tristes
Que nas almas se aninham
Quando vivem sem ninguém?

José Maria Lopes de Araújo

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

CONTRASTE de José Maria Lopes de Araújo















Quando a saudade chega, o pensamento
Vai longe, muito longe, na procura
De algo que é muito mais que desventura,
Que é dor, tristeza e mais que sofrimento.


Quando a saudade chega, é o momento
De se abraçar a cruz que nos tortura,
Pesada e negra como a noite escura,
Triste e angustiosa como a voz do vento !
Mas, se acaso ela pára no caminho,
E me deixa assim triste e mais sozinho,
Embora seja amarga a companhia,


Eu canto as horas da sua chegada
Para senti-la mais acarinhada
Por este coração que a repudia!

JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

quinta-feira, janeiro 28, 2010

ARREPENDIMENTO de José Maria Lopes de Araújo

















Ai, se eu pudesse, se pudesse agora
Travar esta corrida para a morte,
Apontaria, à vida, um outro norte
Que eu quisera nunca dar outrora.


Por isso, este remorso que apavora
E me consome é cada vez mais forte …
E não há nada que me trave ou corte
Esta mágoa que, em mim, há muito mora!

Poria toda a luz em meu viver…
E nunca, nunca mais queria ver
Essa ilusória imagem da ventura…


Se ela surgisse agora, em meu caminho,
Não voltaria a ter o meu carinho,
Mas, sim, o fel de toda esta amargura !

JOsÈ MARIA LOPES DE ARAÚJO