quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Baladas...poema de José Maria Lopes de Araújo

















Não tentes nunca saber,
Nunca tentes desvendar
O que se pode esconder,
Nesta palavra chorar.

Chorar traduz alegria …
Chorar é voz de amargura …
Pode ser clarão de dia
Ou sombra de noite escura.

A casa que Deus me deu,
Sendo minha, é também tua,
Logo que entres e feches
A nossa porta da rua.

A saudade é tudo aquilo
Do muito mais que ficou,
Para além da própria vida
Que foi vida e que passou.

Perguntas-me o que é saudade …
E eu julgo bem que o consigo,
Dizendo que é o que sinto
Se não te trago comigo!

Muito diz quem pouco fala …
Ditado velho e feliz!
É mais sábio quem se cala
De quem não sabe o que diz!

Podes bem galgar na vida,
Mas sem jamais esquecer
Que a escada da subida
Também serve para descer!

Trago minha alma cativa,
Numa amargura constante …
Não há saudade mais viva
Que a saudade do imigrante!

Esta Quadra do Natal
Tem tal encanto e magia,
Que tudo nela se esfuma
Em Paz, Amor e Alegria! …

Não há mais tenaz sofrer,
Nem tormento mais pungente
Que não saber-se dizer
Aquilo que agente sente!

Não há mágoa mais sentida,
Nem mais profundo doer,
Do que a morte numa vida
Que começa a florescer.

Neste livro dos meus olhos,
Se quiseres, podes ler
Aquilo que trago na alma
E não consigo dizer.

As palavras nada dizem,
Nem podem ter o condão
De revelar um segredo
Que se traz no coração …

Sinto, ao ouvir-te falar,
Vontade de te dizer
Aquilo que, em meu olhar,
Tu finges não entender!

Por que te deixei partir,
Sem te beijar, nem eu sei …
Ficou comigo a saudade
Dos beijos que te não dei.

Ficou a saudade comigo,
Diferente da que levaste;
A doce partiu contigo,
E a mais amarga deixaste!

Vou guardar, em meu sentir,
As saudades que deixares,
Saudades que hão-de partir,
Nesse dia em que voltares …

Quem te disse que uma lágrima
Consegue a dor apagar,
Certamente que não sabe
O que é sofrer e chorar!

Caiem as folhas, formando
Um mar triste de abandono …
As vidas tombam também
Tal como as folhas de Outono.

Muito tolo é quem afirma,
Em certeza caricata,
Que vive matando o tempo,
Quando o tempo é que nos mata!

Ó mar, salgado e profundo,
Que limitas meu destino,
Na tua água vive o mundo
Dos meus sonhos de menino!

O tempo não pesa, não conta,
Como não conta a idade,
Quando na vida nos unge
O perfume da amizade.

Não sei, nem quero saber,
Quando voltas ao meu lar;
Não podem ver-te meus olhos
Tão cansados de chorar!

Quem bate à porta, quem bate?
Quem chama por mim, quem chama?
A tristeza ou a saudade,
Ou a angústia de quem ama?

Ontem, passaste por mim,
Muito perto, à minha beira …
Não gostei de ver-te assim,
Com tão estranha maneira! …

Eu não sei porque razão
Tu finges não entender
Que, há muito, o meu coração
Anda por ti a bater!

Corri sempre atrás de ti,
Sem jamais poder parar …
E, correndo, me perdi,
Sem nunca mais me encontrar.

Não consegues esconder
O que tens no coração …
Teus olhos sabem dizer
O que tu não dizes, não!

Por isso, tentam fugir,
Quando te fito enlevado,
Muito preso ao meu sentir
De te amar e ser amado.

Quem te pudesse entender,
Quem pudesse adivinhar,
O que me tentas dizer,
Nesse teu coce cantar …

Lado a lado, caminhando,
Quase mesmo que adivinho,
De olhos nos olhos, andando,
Pisando o mesmo caminho!

Recuses embora a dor,
O tormento, o teu sofrer,
Serás sempre, meu amor,
A razão do meu viver!

José Maria Lopes de Araújo