Não me olhes mais assim que eu quero ver Outra alegria, em teu magoado olhar … Não me olhes mais assim, que eu vou perder O Bem que trago, em mim, para te dar! …
Toda essa angústia que te faz sofrer, Toda essa dor que te anda a atormentar São mistos de amargura e de prazer Que, na vida, jamais te irão deixar!
De mágoa, pela tua solidão … De prazer, porque te enche o coração Uma forte esperança de ventura …
Tudo isso é transitório e enganador; Embora brilhe o Sol, com muito ardor, Vai-se depressa … e volta e a noite escura!
Já vejo espuma rendilhada, Beijando a negra rocha das encostas… E os ramos do arvoredo já me acenam Um demorado adeus da saudade Que anuncia a breve partida … Densa, espessa neblina, Ao longe, como pesada cortina Cinzenta, da cor do mar, Cai e rouba ao meu olhar A singular beleza do Pico Que tanto me faz encantar!
Porque será que a saudade Se antecipa no chegar, Com a tristeza da largada Com a alegria do voltar !
Mas quem pode entender, quem, Os sonhos belos e tristes Que nas almas se aninham Quando vivem sem ninguém?
Quando a saudade chega, o pensamento Vai longe, muito longe, na procura De algo que é muito mais que desventura, Que é dor, tristeza e mais que sofrimento.
Quando a saudade chega, é o momento De se abraçar a cruz que nos tortura, Pesada e negra como a noite escura, Triste e angustiosa como a voz do vento ! Mas, se acaso ela pára no caminho, E me deixa assim triste e mais sozinho, Embora seja amarga a companhia,
Eu canto as horas da sua chegada Para senti-la mais acarinhada Por este coração que a repudia!