terça-feira, outubro 27, 2009

ILUSÃO
















ILUSÃO


Hoje sinto-me triste … A soledade
Inunda o meu viver, duma incerteza,
Duma dor que avoluma esta tristeza
Que é toda, toda feita de saudade.

Hoje, sinto-me triste, porque me invade
O coração um mundo de lembranças
Que abafam, dentro de mim, as esperanças
Que acalentei, na minha mocidade!


Acreditei na vida … Acreditei
No Bem, no Amor, em tanto que nem sei …
E afinal sinto-me hoje, amargurado!


Como seria tudo diferente
Do que o meu coração agora sente,
Se eu pudesse voltar ao meu passado! …


JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO
do livro " Horas Contadas "

Maria, Mãe do Céu














MARIA, MÃE DO CÉU



A Teu lado, caminho, dia a dia ;
Nas Tuas mãos, depus o meu destino,
Desde os longínquos tempos de menino,
Quando aprendi a orar Avé Maria !

Nos momentos amargos de aflição,
Sempre me ouviste, mesmo pecador,
Quando, com muita fé, com muito amor
Pedia a Tua ajuda, o Teu perdão!

Eu não posso aceitar nem entender,
Quando mais acalento este fervor,
Que ainda exista quem possa viver
Sem ter o Teu amparo, o Teu amor!

Maria! Mãe do Céu! Mãe de Jesus !
A Seus pés, foste bem amargurada.
Se Ele arrastou uma pesada Cruz,
A Tua, Santa Mãe, foi mais pesada! …


JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO
do livro "Horas Contadas "

domingo, outubro 25, 2009

PARA QUÊ?...poema de JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO















PARA QUÊ ?

Saí de mim em busca de ventura,
Daquele bem que em vão idealizei
Minha esperança fez-se mais escura
Quando sem nada, nada, a mim voltei.

De tudo que me inquieta e me tortura
Do quanto eu cegamente acreditei,
Apenas se mantém impune e pura
Esta paixão que sempre te doei !

E pergunto a mim mesmo para quê
Se tenta crer no quanto se não vê,
Se dentro de nós não arde, não aquece,

A labareda ardente de um amor
Capaz de transformar a própria dor
Em alegria que jamais perece?!


JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO


do livro " Horas Contadas "

CARTA SEM DESTINO.....poema de JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO




















CARTA SEM DESTINO

Não sei se vou voltar a escrever
Aquela carta, mulher que não conheço,
Toda esperança e mais que bem querer
Para dizer, amor, quanto padeço.

Não sei o que sentirias,
Como não sei porque razão
A água da ribeira corre para o mar …
Nem sei sequer porque motivo
Bate à minha porta o vento,
Num gemido, num lamento
Que me faz sofrer
E, quanta vez, ai quanta,
Mesmo em noites de luar!

Nada sei,
Porque fiquei,
Na vida, parado à tua espera,
Mulher que não conheço.

Todo este sentir,
Num torturante viver,
Se vai numa nuvem de esquecimento
Que, ao longo do passado,
Se foi perdendo, na distância dos tempos,
Levado para longe, por este vento
Que me inquieta e me angustia.


JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

do livro " LABAREDAS "

LABAREDAS...poema de JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO




















LABAREDAS


Esta amargura imensa,
Esta incerteza,
Não haja, não,
Quem as queira avaliar…
Que só pode entender
Minha amargura,
Minha tristeza,
Quem já sentiu, então,
O coração parar ! …


Nesta vida, tão cheia de impureza,
Jamais alguém
Consegue caminhar,
Numa sedutora rota
De encantos e beleza,
Sem olhos magoados,
Cansados
De chorar …

Deixem-me cantar,
Nesta noite viúva de luar,
A dizer
A quem quiser entender
Que meu canto é eco de sofrer,
É labareda da chama
Que se ateia em meu viver …


JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

do livro " Labaredas "

REMORSO...poema de JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO















REMORSO


Sinto remorsos, sinto, de não ter
Gritado, aos quatro ventos, quanto
De bom teria feito, como santo
Que fui predestinado, ao meu nascer!

Remorsos por não ter vivido a vida
Como Jesus viveu : - Semeando o Bem,
Amando todos, sem magoar ninguém;
Trazer a alma de Paz enriquecida.


E por não ter sabido perdoar
A quantos me feriram e me dão,
Ainda, a dura prova do seu Não
Ao amor que eu, em vão, tento esbanjar.

Não saber derramar a caridade,
Sem discriminação … Não dar amor
A quantos vão sofrendo a amarga dor,
No silêncio da sua soledade!

Remorsos tenho de sentir, enquanto
Não for aquilo que eu quisera ser,
Semeando o Bem e o Amor, em cada canto,
Como única razão do meu viver ! …


JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO
 
do livro " Horas Contadas "

sábado, outubro 24, 2009

DESPEDIDA ...poema de JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO
















DESPEDIDA



Na despedida, vou dizer-te adeus,
Sem mágoa, sem pesar e sem tristeza…
É que trago comigo esta certeza
De que, no Além, me espera há muito Deus!


Quando partir não quero ver os teus
Olhos chorarem; só quero ouvir reza
Bem sentida, impregnada de pureza
Tão leve que depressa chegue aos Céus!


Parto feliz, vou encontrar no Além,
A alegria, a ventura, a paz, o Bem
Que nunca tive, nunca, em minha vida …

Não te sintas sozinha … Eu vou ficar,
No ar aqui envolve o nosso Lar …
…Não chores, pois, na hora da partida!
 
 
JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO
 
do livro " HORAS CONTADAS "

DESALENTO....poema de JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

















DESALENTO

Porque a vida não pára, eu, vacilante,
Quero parar, mas sinto, apavorado,
Que, mais a mim, se chega a cada instante,
O fim do meu caminho limitado!

Como vai longe! Ai, como vai distante
O tempo em que vivia descuidado,
E me falava a doce voz cantante
Desse presente que se fez passado!

E a ele volto e não encontro nada,
Que me fale da vida amargurada
Que ao recordá-la ainda me angustia.

Com que tristeza tudo, tudo lembro,
Neste dia cinzento de Novembro,
Nesta manhã viúva de alegria !


JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO


do Livro " HORAS CONTADAS "

HORAS CONTADAS ...poema de José Maria Lopes de Araújo




HORAS CONTADAS

I


Eu não quero que o tempo corra assim,
Depressa como forte ventania …
Pois dia ainda, é noite, dentro de mim,
E a ideia do amanhã já me angustia.

Nada é eterno… Tudo tem um fim…
Vai chegar, cedo ou tarde, aquele dia
Em que o meu Não será mais do que um Sim,
Até mesmo, na hora da agonia!


Louca ilusão a minha, pois ninguém
Pode fugir à morte que ela vem
No mistério insondável do futuro,

Ninguém chegou aqui, para ficar …
Quem vem do nada, ao nada vai voltar …
… E tudo o que se aspire é prematuro.


JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO
do livro " Horas Contadas "

VENTURA ...poema de José Maria Lopes de Araújo




















VENTURA

No 30º Aniversário do nosso Casamento

Tracei, no espaço vão da minha vida,
A imagem da Mulher idealizada ...
E tu surgiste, em sonho, emoldurada
De esperanças e de amor enriquecida !




Fizemos, de mãos dadas, a partida
Para esta incerta e longa caminhada,
Quantas vezes te vi, acabrunhada,
Quanta vez te encontrei desiludida.




E se é certo que também assim me vias,
A tristeza e o desânimo escondias,
De modo a evitar o meu sofrer !




Não sei como é possível, meu amor,
Em alegria, transformar a dor ...
...Ai, como foi tão bom assim viver !




31-10-1984


JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

do livro " Outono da Vida "

AGUARELA OUTONAL .....poema de ...JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO




















AGUARELA OUTONAL

O Sol ficou cinzento ; e o azul do Céu
Cobriu-se com um manto esfarrapado ...
E, triste, o coração desalentado
Envolveu-se de luto, em negro véu !

Mas, para quê viver assim. Senhor,
Numa constante e amarga ansiedade ;
Se esta vida é apenas corredor
Que, breve, nos conduz à Eternidade !

A vida também tem o seu Outono ...
Desilusões são folhas, no abandono,
Ressequidas, levadas pelo vento !

Cabelos brancos, rugas bem vincadas,
Olhos tristes de lágrimas salgadas,
São imagens do Outono e do tormento !



JOSÉ MARIA LOPES DE ARAÚJO

LIVRO " Outono da Vida " 1985